Identificação do Pessoal
Dados Pessoais
É difícil sumarizar o que somos. Não somos sumários. Num espaço tão curto só poderei expor fragmentos de mim, portanto, vou ser cuidadoso nessa seleção.
Durante toda a minha vida escolar vi o Desporto e a Educação Física como uma via de experimentação pessoal, do meu corpo, do meu pensamento e dos limites entre mim e o mundo. Gosto particularmente dos desportos coletivos, dos domínios estratégicos (tática) e da descoberta constante. É isso que pretendo fomentar nos meus alunos, a possibilidade de descoberta, a enunciação de problemas e a envolvência com o processo de ensino-estudo-aprendizagem. Para isso sei que tenho que criar uma dinâmica de relação pessoal do aluno com a matéria, passando-a do ambíguo desconhecimento para a experimentação concreta. Alio ao gosto pelo Desporto, a paixão literária, expressa tanto na leitura como na escrita frequente sobre temas livres. Tenho um interesse particular pela poesia, o surrealismo e o modernismo.
Para além do Estágio Profissional que desenvolvo em consonância com o Núcleo de Estágio do Agrupamento Vertical Clara de Resende, estou envolvido no Departamento Técnico de Futebol de formação do Boavista Futebol Clube. Correntemente, exerço funções de treinador adjunto dos escalões de iniciados (sub14) e juniores (sub18). Estes cargos ocupam grande parte dos meus dias, mas são proveitosos para a minha experiência e para o meu regozijo pessoal. Sou apaixonado pelo meio, pelo futebol, pelo treino e por tudo aquilo que engloba este modo de vida. Sou apologista de que muito pode ser ensinado aos jovens no contexto de treino e que os valores de autossuperação que lhes impomos serão cruciais no seu desenvolvimento como indivíduos.
A minha formação académica, foi distribuída pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, onde conclui a minha licenciatura e a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde frequento atualmente o estágio curricular. Acredito que esta diversificação formativa, me torna mais adaptável e recetível a diferentes contextos e ideias.
Expectativas em relação ao estágio profissional
Não será a primeira vez que piso o chão de uma escola para aprender ou para ensinar e, se pensar verdadeiramente nos ensejos que trilhei nesse espaço, serei sempre confrontado com essa dualidade complementar, que acontece independentemente da nossa função. Nunca tive muitas certezas em relação ao que queria fazer, talvez não tenha ainda, estou apenas certo de gostar de lidar com o universo pueril, pela forma direta e espontânea com que se exprimem os infantes e adolescentes, tão desajustada com a sociedade adulta. Sinto que é fácil retirar deles o que sentem, o que gostam, o que não gostam e por mais duro que às vezes possa ser para com o nosso ego e com as nossas expectativas, impõe-nos de imediato um sentido de responsabilidade, um alarmismo de mudança e de evolução. É nesse ponto em que me encontro, com muito para evoluir, com muito para aprender e sem saber como vai ser esse meu caminho. Porventura, ainda estou num momento de incerteza, tão grande como o meu desconhecimento, mas tenho a certeza de que vou tentar colocar o meu melhor ao dispor dos meus alunos e trabalhar para eles, ficarei contente com isso, se sentir que lhes posso dar algo de mim.
Estou consciente de que acontecerão episódios desacertados, mais ainda quando a experiencia é exígua. Vou tentar que esses erros perturbem o menos possível a aprendizagem dos alunos e que possam servir para me melhorar como professor. Tenho uma boa perceção autocritica e o meu aprendizado na faculdade foi muito orientado para a autoanálise (professor reflexivo). A reflexão “é o processo pelo qual o professor aprende a experiência” (Shulman, 1989, p. 19). A reflexão é comum a todas as profissões e associa-se à evolução do homem, por vezes adquire um carácter expositivo através de texto, outras vezes é um exercício autoimposto, de mim para mim. O que mais importa é a influência nas ações posteriores, que sirva para as modificar, em virtude de um resultado almejado.
Segundo a perspetiva de Dewey não se pode conhecer sem agir e não se pode agir sem conhecer, esta reflexão sobre a praxis (fundamentos que levam à ação) é designada na literatura metapraxis. Nenhuma estratégia formativa será produtiva se não for acompanhada de um espírito de investigação no sentido de descoberta e envolvimento pessoal e é esta uma das ideias que deve estar na base do conceito de professor-investigador.
As minhas potenciais dificuldades estão intrinsecamente associadas às minhas expectativas, concretamente, no não cumprimento das mesmas. Acredito que existem um conjunto de fatores que podem influenciar o desenrolar do meu estágio e nem todos estão sob o meu controlo.
Relativamente à turma, espero encontrar um grupo de alunos interessados e disciplinarmente assertivos. Obviamente, também me caberá a mim moldar a turma aos meus intentos e não existem alunos ideais, parte do processo consiste em instrui-los no sentido da aprimoração.
O grupo de estágio será, também, fundamental no desenvolvimento da atividade, porque será em consonância com ele que se concretizará o planeamento anual, a definição de estratégias e a concretização de tarefas diversificadas sob orientação da professora cooperante. Portanto, espero que este grupo me ajude a evoluir e que esteja aberto às minhas ideias também.
No grupo de Educação Física, penso que será indubitavelmente favorável um ambiente aberto com finalidades análogas na orientação das diversas tarefas. Contudo, isso é, a meu ver, uma utopia no meio escolar, onde as personalidades se aprimoram de conceções pessoais impassíveis e dissemelhantes entre si.
O professor cooperante é o elo mais próximo entre mim e a minha modelação. É ele que deve personificar a minha avaliação de uma forma específica, detalhada e realista. Espero receber feedbacks construtivos baseados numa verdadeira compreensão da pedagogia, com uma noção clara do envolvimento que carateriza a escola.
Finalmente, o orientador de estágio é o elemento de ligação entre mim, a escola e a faculdade, pelo que as suas instruções dever-se-ão centrar na agilização de tarefas concernentes ao estágio pedagógico, para que haja uma consumação efetiva daquilo que é pretendido.
As minhas expectativas em relação ao estágio prendem-se com a definição do que quero ser, do que sou e do que valho num universo contextual em que só me conheço parcialmente. Não sei o que é ser “o professor”, embora já tenha planeado e lecionado aulas, não sei exatamente quais são as minhas rotinas e, portanto, existe sempre um risco de não me identificar com esse meio. De qualquer forma não tenho medo de arriscar, de sair da minha zona de conforto, é dos riscos que se fazem as descobertas e eu estou-me a descobrir. É claro que alguma razão me levou a optar por esta área e que as minhas experiências de contacto com a Educação Física, ora como docente, ora como educando são extremamente favoráveis e me levam a querer formular a minha vida numa base próxima com o desporto e com a transmissão de experiências e conhecimentos. Gosto de acolher o novo, o tempo encaminhar-se-á de colocar as minhas perspetivas, as minhas filosofias à prova. Sei que tenho muito trabalho pela frente, fora e dentro do estágio, porque me propus a acolher várias tarefas, esse é um aspeto que ainda não sei como vou coordenar ou sequer se tenho tempo para me dedicar a tudo isso, mas coloco o estágio como uma prioridade. Para já sinto-me tranquilo, expectante, mas sem ânsia, confio em mim e sei que tudo “faz parte”.
Entendimento do Estágio Profissional
Segundo Behrens (1991, p. 18) “o Estágio tem sido motivo de muitas controvérsias no meio acadêmico. Normalmente, caracteriza-se como uma atividade realizada no último ano do Curso com o objetivo de instrumentalizar o profissional para atuar na sala de aula.”
É sempre um exercício complexo e interessante colocar em prática aquilo que se teoriza sobre diversas conjeturas, torna-se interessante, porque é impossível prever aquilo que se desenvolve no concreto da ação pedagógica, tendo em conta que existe um número tão diverso e extenuante de condicionantes num contínuo espácio-temporal. Já por isso afirmava Freud que ser professor é uma profissão impossível. Eu interpreto as suas palavras num sentido metafórico e faço um transfer para a realidade do professor, tão complexa como renovável. É portanto uma descoberta progressiva do que não se conhece e do que, de facto, é impossível conhecer na totalidade, a humanidade. Ainda assim, não deixa de ser um exercício valioso caminhar na direção do inatingível, é um aprimoramento, uma construção constante e inacabada.
Alves (1997) refere o primeiro ano de prática profissional como “um encontro com a realidade docente em que a imagem idílica de ser professor declina notoriamente face aos ditames realistas de uma prática vivida, por vezes amarga, a que é preciso sobreviver (Alves, 1997: 816-818). Wilson e D’Arcy (1987), falam desde período como tratando-se de “um processo em que a escola desenvolve um programa sistemático de apoio a professores, com vista a socializá-los na profissão e a ajudá-los a tratar os problemas de forma a reforçar a sua autonomia profissional e o seu desenvolvimento profissional”.
Neste ano disponho de um status inusual, sou simultaneamente professor e estudante. Por um lado, ensino e encarno um papel para o qual ainda me estou a moldar. Por outro lado, estou sujeito a orientações superiores que definem e ajudam a regular este processo conflituante.